A humanidade já ultrapassou os limites planetários sustentáveis e a
pegada ecológica antrópica esta 50% acima da biocapacidade da Terra. Por
conta disto, o ser humano precisa se adequar aos espaços cabíveis do
Planeta, necessitando aprender a conviver com as demais espécies vivas
do mundo na única casa existente e conhecida do Universo.
O mundo moderno ficou viciado em crescimento. Em 250 anos, desde o
início da Revolução Industrial e do começo do uso maciço dos
combustíveis fósseis as fronteiras planetárias sustentáveis foram
ultrapassadas. Desta forma, nos dias atuais, o DECRESCIMENTO passou a
ser uma palavra chave e cada vez mais utilizada, pois está se
constatando que não há saida para a continuidade ou mesmo a manutenção
indefinida do atual modelo de produção poluidor e que visa
principalmente o lucro e só sobrevive com base em um consumismo
desregrado.
Tem aumentado a consciência de que a humanidade precisa urgentemente
mudar a maneira como está tocando sua economia. Para evitar um desastre
ecológico, o ser humano precisa reduzir a emissão de gás carbônico
derivado da queima de combustíveis fósseis. Precisa reduzir a emissão de
gás metano derivado da criação dos 60 bilhões de animais terrestres que
vão todos os anos para os abatedouros para saciar o apetite humano.
Precisa interromper a curva ascendente do aquecimento global. Precisa
reduzir a exploração de metais e outros recursos naturais que sugam as
entranhas da Terra e deixam cicatrizes cada vez mais profundas.
A humanidade precisa parar de poluir e superexplorar as fontes limpas
de água doce, parar de usar as reservas de água subterrâneas mais
rapidamente do que elas podem ser repostas e parar de matar os corais e
sujar e acidificar os oceanos. Precisa parar de desmatar e destruir as
florestas. Parar de ameaçar a vida marinha e danificar os ecosistemas.
Precisa eliminar o crime do ecocídio. Precisa parar de produzir tanto
luxo e tanto lixo.
Portanto, o ser humano precisa interromper sua corrida em direção ao
precipício e dar uma marcha à ré no ritmo frenético do crescimento
econômico. Tem aumentado o número de pessoas que acredita que o
decrescimento econômico e populacional pode ser uma maneira de
interromper o desastre. Já existem vários países que estão
experimentando redução da população, tais como Rússia, Ucrânia, Japão,
Cuba, etc.
Mas o crescimento econômico ainda é um mito e uma meta muito desejada
pelas pessoas, pelos sindicatos, pelas empresas e principalmente pelos
políticos e pelos governos populistas. Isto porque o crescimento
econômico do passado estava relacionado com prosperidade, redução da
pobreza e avanços da qualidade de vida, enquanto recessão estava e está
relacionado com desemprego, fome e sofrimento.
Porém, o progresso humano tem se dado às custas do regresso
ambiental. Neste sentido, cada vez mais pessoas passam a defender a
ideia de que é possível haver decrescimento com prosperidade.
Para tanto seria necessário implantar mudanças de concepção e uma verdadeira revolução nos paradigmas, tais como os óctuplos exemplos abaixo:
1) Desmaterializar a economia aprofundando a sociedade do
conhecimento e da informação sustentada por fontes de energia
renováveis, ao invés de investir na energia fóssil e na sociedade do
consumo material, conspícuo e descartável;
2) Interromper o processo de destruição ambiental e aumentar a biodiversidade do Planeta;
3) Reduzir as desigualdades sociais e erradicar a fome e a pobreza,
além de reduzir a obesidade e incentivar uma dieta vegetariana;
4) Investir mais na qualidade de vida saudável, incentivar a virtude e
a autonomia e valorizar mais os prazeres intelectuais e menos a posse
de bens materiais;
5) Erradicar o classismo, o escravismo, o racismo, o sexismo, o homofobismo o xenofobismo e o especismo;
6) Eliminar os gastos militares, reduzir as atividades improdutivas e
poluidoras, acabar com as guerras e implementar o pacifismo mundial;
7) Educar as pessoas para ter um meio de vida correto, evitando as
más ações e avançando na construção de uma sociedade convivial que
incentive a solidariedade interpessoal e ecocêntrica;
8) Incentivar a polidez, a prudência, a temperança, a coragem, a
justiça, a generosidade, a compaixão, a gratidão, a simplicidade, a
tolerância, o humor e o amor desprendido e confluente.
José Eustáquio Diniz Alves,
Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor
titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da
Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus
pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
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